quarta-feira, 6 de março de 2013

EVANGELIZAR OS JOVENS NESTA MUDANÇA DE ÉPOCA


CONSIDERAÇÕES SOBRE O SENTIDO DA AMIZADE


O Anúncio do Evangelho para ser autêntico deve sempre levar em conta o contexto, a situação cultural e histórica, o ambiente social. O anúncio do Evangelho é a proclamação da Palavra de Deus que se fez carne em Jesus, que falou aos homens e as mulheres do povo de Israel, num particular momento da história, utilizando a mesma linguagem dos homens e das mulheres daquele tempo. São dados importantes para serem considerados toda vez que entendemos anunciar a mensagem de Jesus: precisamos conhecer os interlocutores, a cultura e a história deles. Isso vale ainda mais pela juventude, pois é um período da vida caraterizado pela constante mudança, pela busca de novidade e um desprezo por tudo àquilo que é antigo. O jovem quer ser atualizado, na moda, detesta ficar excluído daquilo que está no auge. Por isso vale lembrar que não podemos pensar de realizar um trabalho com a juventude sem levar em conta estas primeiras básicas anotações.

Existe um elemento fundamental que deve ser considerado no trabalho pastoral de evangelização da juventude hoje mais do que nunca: a mudança cultural em andamento. Trata-se de uma mudança de época, ou seja, de algo que está desmoronando as bases culturais e tradicionais que se formaram nos séculos passados. Os adultos malmente percebem isso, mas a juventude vive este novo paradigma cultural e age em conformação a este novo modelo. Este novo paradigma cultural, apelidado de pós-modernidade, está criando novas situações que merecem a nossa atenção. A primeira é aquilo que podemos chamar os novos Areópagos (praças). Antigamente os jovens se encontravam nas praças para zoar, conversar, discutir. Hoje a nova praça é a internet e, de forma especial, Facebook. É neste espaço midiático que a juventude expressa a própria criatividade postando o que ela bem quiser, comentando e opinando. É sem dúvida uma nova maneira de comunicar, que está revolucionando a cultura e a mentalidade e está abrindo novos e impensáveis horizontes. Diálogo imbuído não mais de valores eternos, mas, sobretudo de sentimentos passageiros, partilhando emoções rápidas, discutindo sobre o presente, mostrando para todos o sorriso daquilo que se vive aqui e agora. Nos diálogos do Facebook não aparece o próprio sofrimento, mas se compartilha a dor dos outros. A tendência é manifestar para todos a própria alegria do momento, como se quiséssemos dar de entender que estamos bem, super felizes. Esta é a nova realidade que vive a juventude da era midiática, realidade que não corresponde mais a verdade, mas sim àquilo que nós decidimos que os outros saibam de nós. Nesta nova agora (praça) midiática feita de diálogos com frases rápidas, instantâneas, a amizade não é mais um problema de qualidade, como dizia o filósofo polonês Bauman, grande estudioso desta nova cultura pós-moderna, mas sim de quantidade. Cada jovem que está no facebook pode vangloriar-se de ter centenas de amigos e amigas, muitos dos quais viu apenas algumas vezes ou, nunca viu mesmo. Neste novo patamar cultural a amizade não é mais o fruto de um relacionamento duradouro no tempo, construído com intensidade, passando tempo dialogando olhando-se nos olhos e amiúde construindo algo juntos. Hoje a amizade é um dado momentâneo que dura até quando as pessoas não se estranham e, para interromper amizade não precisa de muito esforço e nem de encontrar o olhar do outro: basta um simples botão. Sai-se das amizades como se veste uma blusa qualquer. Salientando isso não se quer apontar somente um dato negativo, mas indicar a realidade, pois é em cima da realidade que deve ser puxada uma reflexão. Com esta rede de amigos vai para onde? No máximo a beber uma cerveja num bar, ou a curtir um churrasco, um passeio, sempre dispostos a encontrar novos amigos e amigas desta espécie.  O importante é não aprofundar demais a relação para não correr o risco que se torne seria demais. Quem quiser a amizade autentica, aquela que se constrói com o suor do dia a dia, olhando nos olhos o parceiro ou a parceira, é melhor que procure outras praças.

Se é verdade que o anúncio do Evangelho passa através de laços humanos profundos, pois foi deste jeito que Jesus anunciou a sua proposta, neste novo quadro cultural fica uma pergunta: como anunciar o Evangelho aos jovens hoje, sobretudo aqueles jovens que vivem este tipo epidérmico e imediato de relações midiáticas? Tem chance de penetrar a leve espessura de humanidade ou seremos também nós varridos com um simples e descontraído clic do teclado?

Pe. Paolo Cugini

Um comentário:

  1. Pois é!!! “O anúncio do evangelho passa através dos laços humanos profundos”. Mas que beleza de artigo!! Para se criar vínculo forte é necessário encontro, correr o risco de ter remorsos, decepções, etc. Não se cria uma amizade da noite pro dia!!!
    (Fausto Borges)

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