terça-feira, 29 de maio de 2012

Convidados a voltar as fontes da Fé.




Marcilio Reis dos Santos [1]

A catequese de nossa diocese esta desafiada a viver um momento novo, enquanto metodologia da prática evangelizadora. “Num mundo cada vez mais descristianizado e onde os valores evangélicos estão cada vez mais ausentes, a iniciação cristã, através de uma catequese de inspiração catecumenal, se torna cada vez mais urgente e necessária. Para este novo processo catequético precisamos investir na formação de catequistas que sejam verdadeiros discípulos de Jesus Cristo, conhecedores de sua palavra, missionários do reino e capazes de celebrar a fé. Neste processo a presença da comunidade cristã, como fonte e meta da educação da fé, é o lugar privilegiado desta iniciação cristã”[2]

Estes novos paradigmas nos impulsionam a darmos uma resposta satisfatória aos desafios da sociedade hodierna onde:

Ø  A catequese ainda é assumida e vista como escola. Muitos a entendem unicamente como espaço de transmissão de conteúdos mentais relativos à fé e não como iniciação à vida cristã. Essa dificuldade nos é revelada pela não continuidade das relações com os catequizandos depois da primeira Eucaristia, como se tivessem apenas buscando um diploma.

Ø  Temos uma massa de cristãos que participam das nossas comunidades sem a consciência clara da vida cristã. Celebram os sacramentos com preparação insuficiente ou superficial.

Ø  A catequese ainda é vista como tarefa exclusiva do catequista. Não fomos suficientemente despertados para a corresponsabilidade da comunidade de fé. Falta o apoio da família, da comunidade local e dos padres para o exercício comum da catequese e o seu devido acompanhamento como serviço essencial da comunidade.

Ø  Falta clareza metodológica em nossa catequese. Os conteúdos transmitidos nos encontros pouco atingem a experiência da fé. Precisamos rimar e aproximar o saber do sabor, o conhecimento da vida, o entender com o experimentar.

Ø  Continuam separadas a liturgia e a catequese. A participação na liturgia supõe uma boa iniciação na catequese, assim como a remete a ela. Quem participa das celebrações deseja se aprofundar na compreensão dos ritos e símbolos. Encontros pouco celebrativos e muito orientados para “passar conteúdo” não ajudam a iniciação aos sacramentos. O distanciamento das celebrações litúrgicas da comunidade também dificultam o processo catequético como iniciador da fé.

Ø  A globalização como fenômeno atual, se por um lado nos conecta com o mundo e as culturas, por outro nos rouba a possibilidade de aprofundar valores como a religião, a ética, a solidariedade, o respeito ao próximo, à natureza e a orientação para Deus.

Ø  Os catequistas precisam de melhor formação. Em alguns casos, até mesmo ser catequizados! Falta formação continuada no âmbito do conhecimento das sagradas escrituras, da liturgia, dos novos métodos pedagógicos e dos instrumentos científicos que a psicologia, a antropologia, a sociologia e as demais ciências humanas oferecem. Existe uma carência de novas tecnologias, falta de acesso a boas bibliografias, estudos e cursos específicos.

Ø  Quanto ao cultivo da arte como meio de exprimir a fé da comunidade, ainda sabemos pouco sobre como utilizar esses meios: a música, a dança, artes plásticas, teatro e outras manifestações que possam colaborar na transmissão do evangelho e na vivência da fé. Falta também espaço físico adequado, material didático e envolvimento no processo evangelizador por parte da comunidade.

Ø  Nossas comunidades paroquiais não acompanham a evolução tecnológica e metodológica com a qual os catequizandos estão em contato no cotidiano, pela Internet ou pela TV. A formação dos nossos catequistas está em defasagem com a evolução da cultura e tecnologias atuais.

Ø  Existe uma ruptura entre os sacramentos e o testemunho cristão. A preocupação maior é celebrar os sacramentos sem incluir um esforço para vivência autêntica da fé. É responsabilidade dos pais e padrinhos oferecer aos filhos e afilhados uma experiência de fé no seio da família e no contato com a comunidade. As crianças são sensíveis ao que dizem e fazem seus pais. São os adultos que lhes oferecem um modelo de vivência e testemunho do evangelho. Pais e mães, padrinhos e madrinhas muitas vezes não estão atentos a esse testemunho no seio da família, ou no convívio com a criança ou jovem.

Ø  Há sinais concretos de que a preocupação da família quanto a vida de fé que oferecem aos seus filhos é pouco consciente, incipiente e não processual. Levar os catequizandos aos encontros, estar presente no dia da primeira eucaristia ou crisma ou dar presentes não basta.

Ø  Permanece a distância ou mesmo ruptura entre os sacramentos da iniciação cristã. O Batismo é celebrado em total desconexão com a Eucaristia, a Crisma e vice-versa. A Iniciação Cristã ainda esta fragmentada em momentos isolados e pouco relacionados entre si. A catequese de preparação para os sacramentos não cumpre esta ligação e não confere unidade a eles. A celebração é vista como conclusão e término de um processo que deveria, mas não continua pela vida. O método usado em nossas catequeses não leva a participar frutuosamente das celebrações. Talvez porque, no decorrer dos encontros, o elemento celebrativo tenha sido excluído, ou a excessiva preocupação racional não eduque para a expressão simbólica e ritual, a capacidade celebrativa, a contemplação, a oração, a gratuidade na relação com Deus.

Sendo estes e outros os desafios que marcam a realidade catequética de nossas paróquias e da igreja do Brasil a igreja olhou para sua realidade histórica e atual e deu-se conta de que “quando a realidade se transforma, devem, igualmente, se transformar os caminhos pelos quais passa a ação evangelizadora. Instrumentos e métodos que deram certo em outros momentos históricos, com resultados que nos alegram profundamente, podem não apresentar, em nossos dias, condições de transmitir e sustentar a fé.” [3] 

Cada tempo e cada lugar tem um modo característico para apresentar Jesus Cristo e suscitar nos corações o seguimento apaixonado não a algo, mas à sua pessoa, que a todos convida para com Ele vincular-se intimamente.[4] 

Foram estas as motivações que levaram nossos bispos a aprovarem na 47ª assembleia ordinária da CNBB o Documento 97 sobre a Iniciação à vida Cristã, propondo a realizarmos uma catequese no estilo catecumenal.

No entanto diante da “antiga, sempre novidade” muitos começam a se questionar sobre o que é o catecumenato? Como funciona? Por que o catecumenato se apresenta como caminho de superação das dificuldades constatadas? Por que a igreja nos propõe este caminho para a catequese?

Catecumenato é o nome que se dá ao processo de iniciação cristã. É um modelo de catequese que perdurou até o século V. Incluía uma longa preparação para os sacramentos, promovendo adesão a Jesus cristo e à igreja. Tinha a vantagem de ser um processo contínuo, progressivo e dinâmico, marcado por etapas. O catecumenato incluía ritos e celebrações que conduziam à experiência do mistério de Deus. Envolvia toda a comunidade. Tinha caráter educativo e doutrinal e promovia a experiência e o compromisso. O catecumenato, depois de muito tempo em desuso, foi restaurado pela igreja em 1972 pela promulgação do Ritual de Iniciação Cristã de Adultos (RICA) que hoje é fonte de inspiração e itinerário para toda a catequese.

Sendo inspiração para toda a catequese, o catecumenato nos apresenta um método marcado por celebrações. As etapas são como um itinerário, um caminho que conduz os catequizandos, a comunidade, as famílias e os ministros ao núcleo da fé.

Portanto, mãos a obra. Deve ser este o nosso imperativo, depois de tomarmos conhecimento básico a respeito do processo catecumenal e da sua inspiração para a nossa catequese, precisamos conhecer como vamos fazer isso acontecer. Já sabemos que esta proposta é uma grande resposta a muitas dificuldades que encontramos no ministério catequético. Mas não basta. Precisamos dar passos concretos para realizar esse caminho e para buscar um crescimento comum e ordenado para a catequese em nossas comunidades. Somos então convidados a voltar as fontes da fé, pois a experiência da fé faz transbordar o anúncio da Boa-notícia para além da comunidade cristã fazendo ecoar o Verbo da Vida do qual somos mensageiros.
  


[1]   Seminarista da Diocese de Paulo Afonso-BA, bacharelando do curso de Teologia da faculdade arquidiocesana de Feira de Santana-BA; Assessor da dimensão bíblico-catequética da pastoral na Paróquia de Santa Teresa em Ribeira do Pombal-BA.
[2]  CELAM, A caminho, de um novo paradigma para a catequese: III Semana Latino-americana de catequese. Brasília, edições CNBB, 2008, p. 6.
[3] DGAE 2011-2015, 25.
[4] DGAE 2011-2015, DAp 13.

Um comentário:

  1. Uma reflexão que nos ajuda a perceber como é urgente "voltar às fontes", e a entender como a Igreja está buscando dar respostas a realidade que está ao seu redor. Parabéns Marcílio pelo artigo, de uma forma coerente você mostrou o que a nossa como o está a caminhada do ministério catequético em nossa diocese.

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