Marcilio Reis
dos Santos [1]
A
catequese de nossa diocese esta desafiada a viver um momento novo, enquanto
metodologia da prática evangelizadora. “Num mundo cada vez mais
descristianizado e onde os valores evangélicos estão cada vez mais ausentes, a
iniciação cristã, através de uma catequese de inspiração catecumenal, se torna
cada vez mais urgente e necessária. Para este novo processo catequético
precisamos investir na formação de catequistas que sejam verdadeiros discípulos
de Jesus Cristo, conhecedores de sua palavra, missionários do reino e capazes
de celebrar a fé. Neste processo a presença da comunidade cristã, como fonte e
meta da educação da fé, é o lugar privilegiado desta iniciação cristã”[2]
Estes
novos paradigmas nos impulsionam a darmos uma resposta satisfatória aos
desafios da sociedade hodierna onde:
Ø A
catequese ainda é assumida e vista como escola. Muitos a entendem unicamente
como espaço de transmissão de conteúdos mentais relativos à fé e não como
iniciação à vida cristã. Essa dificuldade nos é revelada pela não continuidade
das relações com os catequizandos depois da primeira Eucaristia, como se
tivessem apenas buscando um diploma.
Ø Temos
uma massa de cristãos que participam das nossas comunidades sem a consciência
clara da vida cristã. Celebram os sacramentos com preparação insuficiente ou
superficial.
Ø A
catequese ainda é vista como tarefa exclusiva do catequista. Não fomos
suficientemente despertados para a corresponsabilidade da comunidade de fé.
Falta o apoio da família, da comunidade local e dos padres para o exercício
comum da catequese e o seu devido acompanhamento como serviço essencial da
comunidade.
Ø Falta
clareza metodológica em nossa catequese. Os conteúdos transmitidos nos
encontros pouco atingem a experiência da fé. Precisamos rimar e aproximar o
saber do sabor, o conhecimento da vida, o entender com o experimentar.
Ø Continuam
separadas a liturgia e a catequese. A participação na liturgia supõe uma boa
iniciação na catequese, assim como a remete a ela. Quem participa das
celebrações deseja se aprofundar na compreensão dos ritos e símbolos. Encontros
pouco celebrativos e muito orientados para “passar conteúdo” não ajudam a
iniciação aos sacramentos. O distanciamento das celebrações litúrgicas da
comunidade também dificultam o processo catequético como iniciador da fé.
Ø A
globalização como fenômeno atual, se por um lado nos conecta com o mundo e as
culturas, por outro nos rouba a possibilidade de aprofundar valores como a
religião, a ética, a solidariedade, o respeito ao próximo, à natureza e a
orientação para Deus.
Ø Os
catequistas precisam de melhor formação. Em alguns casos, até mesmo ser
catequizados! Falta formação continuada no âmbito do conhecimento das sagradas
escrituras, da liturgia, dos novos métodos pedagógicos e dos instrumentos
científicos que a psicologia, a antropologia, a sociologia e as demais ciências
humanas oferecem. Existe uma carência de novas tecnologias, falta de acesso a
boas bibliografias, estudos e cursos específicos.
Ø Quanto
ao cultivo da arte como meio de exprimir a fé da comunidade, ainda sabemos
pouco sobre como utilizar esses meios: a música, a dança, artes plásticas,
teatro e outras manifestações que possam colaborar na transmissão do evangelho
e na vivência da fé. Falta também espaço físico adequado, material didático e
envolvimento no processo evangelizador por parte da comunidade.
Ø Nossas
comunidades paroquiais não acompanham a evolução tecnológica e metodológica com
a qual os catequizandos estão em contato no cotidiano, pela Internet ou pela
TV. A formação dos nossos catequistas está em defasagem com a evolução da
cultura e tecnologias atuais.
Ø Existe
uma ruptura entre os sacramentos e o testemunho cristão. A preocupação maior é
celebrar os sacramentos sem incluir um esforço para vivência autêntica da fé. É
responsabilidade dos pais e padrinhos oferecer aos filhos e afilhados uma
experiência de fé no seio da família e no contato com a comunidade. As crianças
são sensíveis ao que dizem e fazem seus pais. São os adultos que lhes oferecem
um modelo de vivência e testemunho do evangelho. Pais e mães, padrinhos e
madrinhas muitas vezes não estão atentos a esse testemunho no seio da família,
ou no convívio com a criança ou jovem.
Ø Há
sinais concretos de que a preocupação da família quanto a vida de fé que
oferecem aos seus filhos é pouco consciente, incipiente e não processual. Levar
os catequizandos aos encontros, estar presente no dia da primeira eucaristia ou
crisma ou dar presentes não basta.
Ø Permanece
a distância ou mesmo ruptura entre os sacramentos da iniciação cristã. O Batismo
é celebrado em total desconexão com a Eucaristia, a Crisma e vice-versa. A Iniciação
Cristã ainda esta fragmentada em momentos isolados e pouco relacionados entre
si. A catequese de preparação para os sacramentos não cumpre esta ligação e não
confere unidade a eles. A celebração é vista como conclusão e término de um
processo que deveria, mas não continua pela vida. O método usado em nossas
catequeses não leva a participar frutuosamente das celebrações. Talvez porque,
no decorrer dos encontros, o elemento celebrativo tenha sido excluído, ou a
excessiva preocupação racional não eduque para a expressão simbólica e ritual,
a capacidade celebrativa, a contemplação, a oração, a gratuidade na relação com
Deus.
Sendo
estes e outros os desafios que marcam a realidade catequética de nossas
paróquias e da igreja do Brasil a igreja olhou para sua realidade histórica e
atual e deu-se conta de que “quando a realidade se transforma, devem,
igualmente, se transformar os caminhos pelos quais passa a ação evangelizadora.
Instrumentos e métodos que deram certo em outros momentos históricos, com
resultados que nos alegram profundamente, podem não apresentar, em nossos dias,
condições de transmitir e sustentar a fé.” [3]
Cada
tempo e cada lugar tem um modo característico para apresentar Jesus Cristo e
suscitar nos corações o seguimento apaixonado não a algo, mas à sua pessoa, que
a todos convida para com Ele vincular-se intimamente.[4]
Foram estas as motivações que levaram nossos bispos a aprovarem na 47ª
assembleia ordinária da CNBB o Documento 97 sobre a Iniciação à vida Cristã, propondo a realizarmos uma catequese no
estilo catecumenal.
No
entanto diante da “antiga, sempre novidade” muitos começam a se questionar sobre
o que é o catecumenato? Como funciona? Por que o catecumenato se apresenta como
caminho de superação das dificuldades constatadas? Por que a igreja nos propõe
este caminho para a catequese?
Catecumenato
é o nome que se dá ao processo de iniciação cristã. É um modelo de catequese
que perdurou até o século V. Incluía uma longa preparação para os sacramentos,
promovendo adesão a Jesus cristo e à igreja. Tinha a vantagem de ser um
processo contínuo, progressivo e dinâmico, marcado por etapas. O catecumenato incluía
ritos e celebrações que conduziam à experiência do mistério de Deus. Envolvia
toda a comunidade. Tinha caráter educativo e doutrinal e promovia a experiência
e o compromisso. O catecumenato, depois de muito tempo em desuso, foi
restaurado pela igreja em 1972 pela promulgação do Ritual de Iniciação Cristã
de Adultos (RICA) que hoje é fonte de inspiração e itinerário para toda a
catequese.
Sendo
inspiração para toda a catequese, o catecumenato nos apresenta um método
marcado por celebrações. As etapas são como um itinerário, um caminho que
conduz os catequizandos, a comunidade, as famílias e os ministros ao núcleo da
fé.
Portanto,
mãos a obra. Deve ser este o nosso imperativo, depois de tomarmos conhecimento
básico a respeito do processo catecumenal e da sua inspiração para a nossa
catequese, precisamos conhecer como vamos fazer isso acontecer. Já sabemos que
esta proposta é uma grande resposta a muitas dificuldades que encontramos no
ministério catequético. Mas não basta. Precisamos dar passos concretos para
realizar esse caminho e para buscar um crescimento comum e ordenado para a
catequese em nossas comunidades. Somos então convidados a voltar as fontes da
fé, pois a experiência da fé faz transbordar o anúncio da Boa-notícia para além
da comunidade cristã fazendo ecoar o Verbo da Vida do qual somos mensageiros.
[1] Seminarista
da Diocese de Paulo Afonso-BA, bacharelando do curso de Teologia da faculdade
arquidiocesana de Feira de Santana-BA; Assessor da dimensão bíblico-catequética
da pastoral na Paróquia de Santa Teresa em Ribeira do Pombal-BA.
[2] CELAM, A caminho, de um novo paradigma para a
catequese: III Semana Latino-americana de catequese. Brasília, edições CNBB,
2008, p. 6.
[3] DGAE 2011-2015, 25.
[4] DGAE 2011-2015, DAp 13.
Uma reflexão que nos ajuda a perceber como é urgente "voltar às fontes", e a entender como a Igreja está buscando dar respostas a realidade que está ao seu redor. Parabéns Marcílio pelo artigo, de uma forma coerente você mostrou o que a nossa como o está a caminhada do ministério catequético em nossa diocese.
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