quinta-feira, 7 de março de 2013

Temos fome de quê?


Nestes dias refleti bastante sobre o texto em que Jesus se apresenta como o pão que desceu do céu convidando o povo a comer daquele pão. Claramente todo o sentido que Jesus deu as suas palavras era de cunho espiritual e não material. De um lado vem Jesus com a uma proposta espiritual, que exige toda uma preparação espiritual, pelo menos uma busca espiritual; do outro lado somos nós, com a nossa materialidade, com a nossa incapacidade de aprofundar a realidade, em fim, com a nossa vida superficial. Por isso o choque entre dois paradigmas antitéticos, contrapostos, impossíveis de se conciliarem, a não ser através de uma conversão. Este é o problema: para acolher a proposta de Jesus, precisa ter fome de Verdade, de Amor, de Justiça. Então, aqui surge imediatamente a pergunta: e nós que fome temos? Temos fome de que? Estamos buscando o que na nossa vida? Estamos buscando algo ou vivemos sem uma meta, sem um objetivo? O problema é muito mais profundo e complexo daquilo que aparece. 

Não basta frequentar uma igreja para ser discípulo de Jesus, para se definir cristão: depende muito daquilo que estamos buscando. Não basta escutar o Evangelho: depende do motivo que está por trás da minha escuta. São as intenções que determinam o sentido daquilo que fazemos. Se não tivermos fome de Verdade, de Justiça, de Amor dificilmente encontraremos no Evangelho algo que satisfaz uma fome de sentido de vida que não temos. Em fim precisamos ter fome de algo espiritual para entendermos o Evangelho como uma proposta de vida definitiva. Este me parece o problema fundamental. 

Na minha experiência de padre pouquíssimas vezes encontrei pessoas com esta fome de Vida, de eternidade, de algo espiritual. Sobretudo aqui na Bahia encontrei no meu caminho pessoas com fome de pão material. Por isso quando acaba a fome o pessoal vá embora. Isso não vale apenas para os pobres que me procuram para pedir uma cesta básica, um cobertor. Têm muita gente que anda na Igreja em busca de algo pessoal, uma gratificação, um reconhecimento, e que some não apenas se sente satisfeito, satisfeita. Só que tudo isso não tem nada a ver com o discipulado de Jesus. O Cristão ou é discípulo ou não é nada. Este, então, é o problema: como passar de um cristianismo egoísta, centrado sobre as próprias necessidades, para uma vida cristã centrada sobre Cristo? A única possibilidade é sentir fome de Cristo. Esta fome nasce da percepção do próprio vazio, do próprio nada, da percepção existencial e espiritual que a nossa vida não é nada, não vale absolutamente nada e que nós não somos nada. Que se acha o cara da vez nunca será discípulo do Senhor. Como conseguir esta percepção da nossa realidade e aceitá-la? Somente uma pessoa acostumada a entrar em si mesma, a si escutar consegue se enxergar por aquilo que é, derrubando a tentação de enfeitar, de disfarçar. Este é o primeiro passo para começar a sentir fome de um alimento espiritual que deve ser procurado com muito sofrimento e dedicação.

Problema: quem pode nos ajudar a apreender a viver dentro, e não fora, a descobrir a riqueza extraordinária da vida espiritual, da vida interior?

Pe. Paolo Cugini

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