quinta-feira, 21 de março de 2013

Como falar de Deus no mundo pós-moderno?


Mudando a cultura e o contexto cultural deve mudar também a maneira de falar de Deus. Aquilo que aparece com sempre mais evidencia é uma cultura da indiferença pela qual todas as posições são iguais, e nenhuma tem o direito de se impor as outras. É a Koiné da tolerância que está sempre mais se difundindo no quadro cultural do relativismo. Se os valores Ocidentais foram varridos pelo fracasso das grandes narrações da modernidade, então agora não existe mais nenhuma autoridade que possa se impor aos outros. Se Deus é colocado no ângulo das pertenças parciais e se é considerado relativo à uma cultura ou tradição, então tudo é colocado no mesmo patamar. Neste novo quadro cultural relativista que abre o caminho a toda forma de pluralismo os grandes problemas da sociedade se resolvem de forma democrática, no redor de uma mesa. A teoria da comunicação de Jürgen Habermas indica que, num debate tipicamente pós-moderno, aonde nenhuma autoridade tem moral para impor aos outros a própria posição, o único caminho a ser percorrido consiste no dialogo da forma tal que tudo aquilo que é colocado deve ser entendido por todos. Isso quer dizer que, neste dialogo pós-moderno na busca de uma solução a um problema, qualquer discurso tipicamente religioso deve ser traduzido para que fique inteligível para todos os interlocutores.  

Aprender a dialogar de maneira não autoritária e agressiva, talvez seja um dos grandes desafios que a cultura pós-moderna está levando para o cristianismo, ou melhor, para o catolicismo. Vinte séculos de conversa arrogante exige uma conversão muito dura e difícil, mas necessária e possível, pois não se muda de um dia para o outro. Quem é acostumado a dialogar dando ordens de cima para baixo, tem dificuldade de fazer o pequeno exercício importante da escuta do outro.  É difícil porque por trás do catolicismo estão séculos de intolerância, da incapacidade atávica de lidar com o diferente, com ideias diferentes, com culturas diferentes. A historia da Igreja Católica, nesta perspectiva, é assombradora porque é alastrada de paginas terríveis, de imposições de uma fé que exigiria a adesão pessoal, imposições amiúde violentas. Esta violência se tornou ao longo dos séculos herança maldita, forma cultural, mentalidade que moldou a maneira da Igreja se relacionar com o mundo. O filosofo italiano Gianni Vattimo, ao longo da sua obra, dedica diversas paginas para argumentar sobre a maneira da Igreja fazer teologia e como esta seja marcada por um cunho violento, devida a mesma metafisica assumida como esquema referencial . Um pensamento forte não pode que gerar argumentos agressivos e absolutistas, saindo de uma entidade que se acha dona da verdade e pouco disponível ao confronto. Passar séculos alimentando este estilo autoritário, esta maneira unilateral de considerar as coisas, cria um costume que se transforma em mentalidade, em jeito de ser.

A cultura pós-moderna está criando um clima aonde não tem muito espaço por posturas arrogantes e autoritárias. Nesta clima novo até uma instituição como a Igreja é destinada a mudar de tom se quiser veicular os próprios conteúdos. Hoje em dias não é mais possível falar de Deus com o dedo na cara, ou impondo uma moral. A cultura pós-moderna exige um discurso mais manso, delicado, atento ao interlocutor e, por isso, exige uma grande capacidade de escuta. Além do mais, nesta época pós-moderna é difícil pensar de anunciar o Evangelho somente esperando nos próprios perímetros os interlocutores, mas é necessário sair, entrando nos perímetros dos outros. Esta saída fora enfraquece a força dos argumentos e provoca a capacidade da escuta atenta e desinteressada, pois qualquer forma de interesse é considerada com suspeita. É preciso sair da complexidade das estruturas e amiúde dos documentos, para voltarmos á simplicidade dos evangelhos. Uma fé simples numa sociedade complexa: este é o grande desafio.

 Talvez estamos vivendo  numa época que favorece mais do que nunca o estilo do Evangelho: é bom pensar nisso.

Pe. Paolo Cugini

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